domingo, março 27, 2005

assessoria de imprensa

O ser humano tem uma capacidade infinita de arranjar coisas imbecis para ocupar seu tempo. Mais que isso, cria atividades inúteis para "ganhar a vida", e justificar para os outros seres humanos sua presença na sociedade. Chamam isso de profissão.

Quero deixar claro que este post não é nenhuma análise respeitável, mas apenas um comentário superficial. Um registro rápido sobre essa escrotice que seria até tolerável, se não fosse, às vezes, exagerada demais. Como não quero me aprofundar em exermplos, vou ficar apenas no que me interessa.

Assessoria de Imprensa.

"Para quê?????". É uma pergunta justa. Se as pessoas não fossem idiotas, e os jornalistas incompetentes, essa profissão não teria nenhuma necessidade de existir. Simplesmente porque atrapalha mais do que ajuda.

O fato que me deixou impressionado foi o seguinte.

Não é segredo que o grande sonho de quase todo profissional de TV no Brasil é evoluir ao ponto de chegar, um dia, à Hollywood. Há décadas, qualquer participação de brasileiro em cinema americano é amplamente divulgada como se fosse a conquista do Novo Mundo. E olha que na maioria das vezes, é só uma ponta, num filme de, no máximo, médio porte.

De Sonia Braga a Rodrigo Santoro, de Pelé a Gisele Bündchen, passando por Seu Jorge, os exemplos são muitos.

Mas o que me deixou impressionado nesse Domingo de Páscoa, foi assistir, junto ao "Tio Cláudio" (hehehe), a um filme do Denzel Washington que tinha no elenco não apenas um, mas DOIS BRASILEIROS.

Não me lembro o nome do filme, até porque logo no início, o susto não me deixou não prestar mais atenção, afinal...

"O QUE O PROFESSOR CABELUDO DE BIOLOGIA DA MALHAÇÃO TÁ FAZENDO ALI???"

Lembra dele? Um loiro-sarará, com cabelo de formato entre o Bozo e o Galeão Cumbica, clássico do Telecurso e de vários comerciais?

Pois é. O danado era um dos capangas mais importantes do traficante do filme. Com um inglês razoável, não fazia papel de latino, mas de americano ("New Jersey Boy" era o nome dele), e em uma de suas cenas, falava em 2 minutos mais que o Rodrigo Santoro em toda sua carreira hollywoodiana.

Quando me acostumava com a trama, e achava que ela já caminhava para o final, veio o segundo baque:

"O DOIDINHO DO BICHO-DE-SETE-CABEÇAS É IRMÃO DO TRAFICANTE-REI!!!!"

É verdade. Gero Camilo (é isso mesmo), aquele paraibinha feio pra caralho, que ironicamente, começou contracenando com nosso maior galã do cinema californiano, fazia um papel ESSENCIAL para o desfecho final. Era irmão do traficante mais fodão e, em uma cena antológica, gritava e esgarçava as rugas da carinha feia, ao ter os dedos decepados por um tiro à queima-roupa do próprio Denzel Washington.

A questão que me indigna, e que me faz escrever este rápido protesto é:

"POR QUE O TV FAMA NÃO FALOU DESSE FILME? POR QUE NÃO SAIU NA CONTIGO??? POR QUE O FANTÁSTICO NÃO FEZ UMA MATÉRIA????? POR QUE OS CARAS NÃO VIRARAM ÍDOLOS DA JUVENTUDE CULT E HYPADA????"

Uma resposta coerente seria: "Porque os dois são feios".

Um argumento realmente sólido, não fossem duas coisas:

1- O Seu Jorge também é feio. E todo mundo fala dele.
2- Puta que pariu!!! Não era um brasileiro num filme. ERAM DOIS!!!!

A única conclusão a que posso chegar é que os dois não tem grana (nem com o cachê do filme, hein?) para pagar um assessor de imprensa. E por isso se fodem.

Eis uma profissão que tornaria o mundo melhor ao inexistir.

quarta-feira, março 23, 2005

Ficando Famoso

A concorrência está ficando nervosa. Percebam o que colhi em outro Blog na net...
( por questões de segurança, manterei o endereço em segredo)

"Sobre a anti-racionalidade"

"Confesso que não li o Blog de Brunolo. Mas além de beleza, perspicácia , modéstia e superioridade caucasiana, tenho o poder da mediunidade que me garante o direito da dívida injustificada.

A exemplo de Horkheimer , (que também não li, apesar de fingir conhece-lo como as falanges de Cicarelli ), o Blog de Brunolo parece que foi escrito por uma necessidade que Brunolo tinha de, digamos assim, escrever.

Agora, vamos nos preparar um pouco nesse assunto específico, que é a necessidade da escrita. Por que um idiota completo, com aspecto semita, decide escrever merda crua ? Apesar de não ter lido as idéias perfunctórias da obra, é fato notório que eu detenho exclusividade na arte de escrever merda crua.

Não aceito qualquer ameaça de concorrência. Eu poderia declarar aqui que o Gugu é homem, ou que Padre Marcelo é pobre , mas tenho que arranjar outra forma de enganar o leitor e encher lingüiça. Por isso exercito minha bipolaridade (que, aliás, é meu cartão de visitas) e minha falta de piedade cavando coisas que desconheço e escrevendo frases de efeito como: a avareza de Zola é constatada no momento em que a obra resiste a se integrar ao Neo-Arcadismo e se dispersa em mocorongos adolescentes.

De qualquer forma, voltando à Blog de Brunolo : não se trata de um Kafka, nem de um Nelson Rubens . Aliás, essa comparação que tentei fazer só expõe minha limitrofia, porque não posso comparar uma obra que não li. Mas, para que se preocupar com coerência e raciocínio? Se Brunolo for tão desnecessário quanto eu, pelo menos arrumo uma boa briga."

terça-feira, março 08, 2005

Segundo Capítulo 1 (Ou Primeiro Capítulo 2)

Senhoras. Muitas senhoras. Algumas menos gordas, outras também.

Uma verdadeira infantaria de velhas malucas, com a inseparável presença de seus filhos e filhas, empurrando e esperneando para comprar material escolar numa loja que não é especializada nisso.

Vou explicar melhor. Depois do que se passou no Capítulo anterior, resolvi fazer uma excursão ao distante Méier. Distante sim, porque andar a Hermengarda (é isso?) inteira na contramão das dezenas de ônibus fumacentos piora bastante a já sofrível viagem.

Tinha umas coisas mais importantes pra resolver, outras menos. Comprar uns cabos para a guitarra, pagar umas contas e outras bobagens.

Eis que na hora do regresso ao lar, tive uma idéia:

"- Acho que vou dar uma paradinha nas Lojas Americanas e comprar um caderno e umas canetas."

Brilhante. Lá tem ar-condicionado, dá pra aliviar um pouco o calor antes de voltar pra casa. Lá costuma ter uns cds bons baratos. Lá costuma ter chocolate barato. E, é claro, também tem as ferramentas que me ajudarão a mudar meu futuro estudantil.

A primeira impressão foi ótima. Loja vazia, descoração estranhíssima de Páscoa (patrocinada pela Lacta). Mais decoração de Páscoa, e algumas ofertas de produtos Bic, Faber Castell, Tilibra e outras dessas marcas que a gente só lembra uma vez por ano. Preferi deixá-los pra depois.

Como de hábito, dei aquele passeio. Todo mundo que me conhece bem sabe que adoro as Lojas Americanas. É uma mania esquisita que tenho.

Vi as roupas baratas. Pensei em comprar, mas não tive coragem. Não perdi muito tempo com a seção de utensílios domésticos, já que na Casa & Vídeo é tudo mais barato, com o mesmo nível de não-qualidade. Cheguei na minha parte preferida: os brinquedos infantis (brinquedo infantil
não é pleonasmo. existe brinquedo de adulto sim. mas vende em outra loja). Passei uma meia hora por lá. Depois de apertar 28 bichinhos de pelúcia que gritavam, analisei os jogos de tabuleiro, chegando à conclusão de que este tipo de diversão só tem mais 20 anos de vida. As crianças de hoje já não brincam disso, e quando forem pais, não vão querer que os filhos brinquem. Mas isso é assunto para outro post.

Então verifiquei os CDs, nada de bom por R$9,90. Apenas Belle & Sebastian. Nunca gostei muito. Além da temível prateleira com todos do (urghhh) Legião Urbana, achei um "Ruído Rosa", do Sr. John Takai. Achei melhor levar. Minha cópia pirata já não tocava as últimas faixas.

Foi aí que acho que uma macumba braba se abateu sobre mim.

A essa altura já havia me esquecido do motivo de estar ali (comprar um caderno e umas canetas). Fui pagar o CD do Pato Fu, mas para minha sorte (ou azar) o computador do caixa estava ruim, e ou eu esperava, ou pagava lá fora. Foi quando me lembrei do caderno.

Ao sair da seção de CDs e DVDS, percebi que algo havia mudado. Conversas indistas e burburinhos dignos de Closed Caption vinham da parte da frente da loja.

Pois é. Era a tal horda de mães monstruosamente gordas que entravam ao mesmo tempo no estabelecimento. Inflei o peito. Respirei fundo, recitei trechos importantes do Tao Te Ching, e, como as árvores tenras da maturidade, resolvi ser flexível, e interagir com as mamães e suas crias.

Ledo engano, diria meu avô Jorge Vouzella. Elas não queriam ouvir "com licença" e muito menos "por favor". Descobri que boa parte delas eram de um "grupinho de compras". Isso mesmo. Ouvi uma explicar para alguém que eram todas mães de crianças do mesmo colégio, que estavam na Kombi de uma delas (que absurdo!!) comprando o material todas juntas. Assim, segundo a senhora mestiça de expressões duras, elas teriam certeza que só compraram o mais barato.

Depois disso, ela completou dizendo que acabavam de vir da Casa Cruz e outras lojas do Centro, mas que lá estava meio caro, e, além do mais, estava muito cheio. Nas Americanas, explicou,"o lápis de cor tá muito barato". E ainda completou: "Olha só aqui é bem mais tranquilo, olha como tá vazio...".

Neste exato momento eu estava preso entre outras duas enormes bundas negras. Não podia me mover, e muito menos olhar para nenhum dos dois lados, me restava, então, a visão das prateleiras em minha frente. Nelas, eu observava, é lógico, muito interessado, cadernos de caligrafia e estojos com frases religiosas como "Jesus é fiel". Pra sair resolvi fingir de interessado e perguntar pra uma das duas: "Será que não tem aquele 'Só Jesus expulsa os demônios das pessoas'"???

Elas não entenderam direito. Era a brecha que precisava pra escapar.

Suei bastante para passar pelas banquinhas que vendiam promoções de lapiseira. Criança adora lapiseira. Mas só até a idade em que elas tem que comprar o próprio grafite. Tinha mais criança do que mãe.

Consegui achar cadernos de uma promoção que elas, surpreendentemente, não tinham avistado. Todos tinham o mesmo preço. Qual peguei? Qualquer um, lógico. Quanto menos tempo ali, maiores eram as chances de escapar das Americanas sem um colapso nervoso.

Logo ao lado, tinha uma banquinha de canetas. Graças à Deus, tenho um gosto estranho, e prefiro aquela caneta Bic toda preta, que solta tinta pra caralho. Ao meu lado, apenas um jovem casal do Cachambi procurava uma tal "caneta que não mancha" que um amigo mostrou pra eles. Acho que era mentira do tal amigo. Nunca vi caneta não manchar.

Não preciso dizer que achei um absurdo pagar quase três reais numa só caneta. Uma caneta simples, sem nada especil. Não era a caneta do Clodovil, e nem era uma caneta da moda. Se ela fosse escrever sozinha pra mim, pagava até mil reais. Mas não era uma novidade tecnológica. Era apenas uma caneta comum. Que escreve em papel comum.

Resolvi pesquisar, já que as mães não acessavam muito a área das canetas, afinal, devia haver um concorrente. Mais alguém no mundo deveria querer vender aquela merda de caneta preta. Mas procurei e não achei nada.

Perceptivelmente irritado, me dirigi à fila dos CDs, pra tentar pagar lá. Adivinha o que aconteceu? Sistema fora do ar. Arghhh! Que raiva.

Cheguei então à fila principal, e é aí que o conflito direto aconteceu. A fila até que não era muito grande, e ao entrar nela, fiquei aliviado ao ver uma senhora sair. "-Uma a menos", pensei. Me posicionei atrás daquele casal da caneta "mágica" e me preparei pra esperar.

Quem chegou então atrás de mim?? A gorda. Aquela que contava sobre a Kombi. Olhou bastante para os 8 que estavam na nossa frente e me perguntou:

-Você não viu uma moça gordinha por aqui não?

Balancei o rosto negativamente.

-Ela estava guardando nosso lugar na fila.

Fiz aquela cara de merda que o Felipão adorava fazer para os jornalistas na Copa.

Dois minutinhos e a "moça gordinha" (devia pesar alguma coisa com 3 dígitos) apareceu. Pronto, né. Todas as condições necessárias: Gente pobre, nervosa e se sentindo ferida no parco senso de justiça presente em si. O BARRACO ESTAVA ARMADO.

- Vem cá, por que você não guardou nosso lugar na fila?

- Eu guardei sim. Só fui dar uma olhadinha naquela promoção de compassos e transferidores. Você esqueceu que Dinaldo foi pra 4ª série? Ele vai precisar. Não sei pra que o professor...

[interrompendo] - Cala a boca, Arlene! Não me inventa desculpa. Não quero saber. A gente ainda tem que comprar as cartilhas lá em Madureira, que aqui tá caro demais...

[ela se vira para o meu lado] E você aí, tá rindo de quê? Furou a fila e tá feliz, é???

Tentei me defender. Tentei mostrar que não estava rindo, que a situação não me divertia, mas era inútil. Ela não parava:

- Vocês jovens não respeitam ninguém mesmo. Não tá vendo que eu tenho idade pra ser sua mãe?? Por falar nela, ela não te deu educação não, menino? Que é isso??? AAAAAi...

Graças a Deus, alguém cutucou por trás a senhora. Que já vermelha, com a jugular saltando do pescoço, se assustou e despencou no chão.

Era um funcionário da loja que, fantasiado de apontador, pedia passagem para carregar alguns milhares de lápis para um expositor na entrada. A gorda deve ter achado que era alguma alucinação pra desmaiar, ou então lembrou de algum trauma de infância, sei lá...

Enquanto o casal da "caneta mágica" abanava a mulher, um funcionário dizia"Caixa 15 livre". Era tudo que eu queria ouvir. Com agilidade de ginasta, e destreza de amante que foge do motel, saí de fininho da confusão.

Nada de Visa Electron. Dinheiro, troco, obrigado e tchau, velha maluca.



...a ser continuado... (escrito por um português)



Brunolo escreve este relato sempre não quer usar canetas. Ele jura que é tudo verdade, e que nunca teve intenção de ofender senhoritas acima de seu peso.