segunda-feira, outubro 31, 2005

o chafurdeiro do além-túnel

foram 19 dias sem entrar em casa.
mais uma vez, o bom-coração, somado à preguiça eterna, me fuderam completamente.
marquês de olinda, pereira da silva e av. atlêntica (de macaé), foram meus refúgios neste meio-tempo. enquanto isso, meu lar se transformou num pântano, especialmente preparado para exterminar seres humanos asseados, por meio de impressões de profundo impacto psicológico.

alguns fatores inesquecíveis:

***no 3° dia, após ajudar na mudança dos futuros avós de meus netos, visito brevemente meu endereço. por algum motivo desconhecido, saio de lá com a dúvida: "fechei as janelas??"

***no 6° dia, o maior vendaval dos últimos 5 anos, no rio de janeiro.
junto com ele, em apenas uma noite, a mesma quantidade de chuva que caiu no mês de outubro inteiro.
durante todo o temporal, é óbvio, todas as janelas estavam abertas.

***no 10° dia, visita rápida, para embarque de roupas sujas.
acredite em mim, conspícuo leitor, as roupas já eram o item menos sujo do apartamento.
mesmo assim, com muita disposição, o seu intrépido narrador passa a noite lá, e fecha todas as janelas antes abertas.

***no 11° dia, pela manhã, saio para trabalhar.
as janelas ficam abertas, pra tentar mascarar o cheiro de bolor, vindo da cachaça ventada que caiu do céu 5 dias antes.
neste dia, uma gravação de última hora, e uma viagem de emergência...
as janelas, devido à viagem, que hipoteticamente duraria apenas uma tarde, permanecem abertas...

***no 15 dia, a tempestade de número dois
em macaé, nem fiquei sabendo da outra cachaça ventada que caiu.
na poltrona limpinha, sentindo a brisa gostosa do mar, as condições do lins de vasconcelos foram esquecidas. eu pagaria o preço, logo a seguir.

***no 18° dia, o grande retorno.
na volta da viagem, soube do outro temporal. o medo foi grande.
mas, ao abrir a velha porta marrom, o nojo de pisar no possível lodo do chão acabou.
estava tudo como deixei, num patamar esperançosamente controlável de imundície.
"preciso apenas de um profissional", foi o que imaginei.
eis que quando tento telefonar para contratar um profissional, o aparelho começa a jorrar uma água verde. meu amigo filipi jatobá, mesmo cego, sente a vibração das enormes gotas caindo no chão e começa a gargalhar.
a tentativa de averiguar outros danos no apê é abandonada quando vejo que meu exemplar de "a vida íntima das palavras" foi reduzido a apenas 1 página, de tanta água suja que pegou.
surpreendentemente, não fiquei nervoso.

***hoje
triste, chego a algumas conclusões:
1. meu próximo apartamento não terá janelas.
2. juro não dormir em nenhum outro lugar, a não ser minha própria casa, pelo menos até o fim do ano. principalmente na zona sul.
3. preciso, urgentemente de uma equipe profissional de faxina.
4. estou pensando em me mudar pro outro lado do além-túnel.