terça-feira, janeiro 18, 2005

por que tão longe?

com o tempo, ficamos mais velhos e achamos que sabemos mais sobre o mundo, as coisas e as pessoas. achamos que a cada dia existem menos coisas que nos surpreendam. mas às vezes dá errado.

há uns bons anos atrás, fui convidado por um amigo pra assistir um show da banda de um novo colega de sala, um tal de manoel. o tal show seria num evento apelidado de "sexta-cheira rock".

lógico que a grande rebeldia era apenas no nome. de "cheira", não tinha nada, era apenas um monte de molecada curiosa pra assistir shows de alguns bravíssimos quase-músicos, que insistiam em fazer aquilo num lugar tão inadequado quanto o salão do clube da cerj, em itaperuna.

depois de alguns momentos esquisitos, assisti ao show do futuro grande amigo manolo, que extremamente talentoso, e com o bom-gosto de sempre, fez com a "causa mortis" um grande show. na banda, um dos maiores bateristas que já vi tocar. mas não é sobre isso que falarei.

na verdade o que quero lembrar é uma banda que tocou depois. já no final do "festival", antes da bastante popular banda de cover da cidade. eu estava sentado, longe do palco, já descansando, e comecei a ouvir guitarras extremamente bem arranjadas (mesmo que não soubesse o que queria dizer isso), então resolvi prestar atenção no que aconteceria.

era o dormidela tocando sua primeira canção. pouca gente assistia. a maioria batendo aquele papo que todo mundo gosta de bater em cidade do interior. quase todo mundo dando um tempinho pra esperar a hora da "grande" banda cover tocar. afinal, eles tocariam até pearl jam.

o problema, que eu logo descobriria, era o seguinte: o dormidela era bem melhor que o pearl jam.

não sei o que os caras tinham, não dava pra entender muito bem o que o vocalista cantava ao abraçar o pedestal ou deitar no chão, não dava pra saber se era inglês ou português, mas as músicas soavam bem. a banda funcionava ainda melhor. cheguei um pouco mais perto pra ouvir melhor, mas, infelizmente. logo alguém me chamou, e eu fui fazer alguma outra coisa. nesse momento perdi um dos shows que mais tenho vontade de ter assistido na minha vida. depois disso, acabei virando fã da banda, e ainda sonho em conseguir o clássico demo invidiaovivo.

prolixo como sempre, não sei fazer introduções, e só contei essa historinha chata para poder falar sobre o que aconteceu em ubá no domingo passado.

mesma situação. fui esperando fazer uma coisa e me surpreendi com algo que jamais esperava.

seríamos a segunda banda a tocar. depois de dar muitas voltas na pracinha, experimentar uma cachaça muito sinistra e jogar videogame com o filipi, fui dar uma olhada numa bandinha da cidade, que estava abrindo a noite.

entrei no salão e até aí, o que já esperava. um monte de meninos de no máximo 17 anos. mas no palco, puta que pariu, no palco, dois garotos com instrumentos de corda não justificavam a idade que tinham.

fiquei realmente muito, mas muito assustado.

melodias lindas. simples, mas verdadeiramente lindas. um vocal que, apesar de meio morto, e às vezes desafinado, carregava de drama as canções, com aquela força de quem vive a música que canta. domínio total do guitarrista e do baixista sobre os instrumentos. isso é raro de se ver. parecia que o baixo e a guitarra faziam parte dos caras. eles não tinham medo de errar. e nem de acertar. fora que, antes de mais nada, eles tocavam para caralho. tinha horas que parecia que o graham coxon estava solando no sonic youth. o que pensei foi apenas "eu não sei compor. eu não sei tocar guitarra". uma performance maravilhosa. alguns erros nas transições de partes das músicas, algumas saídas do andamento, mas o que isso importa? eu já me sentia em qualquer uma dessas casas tradicionais do indie britânico ou americano. o que eles faziam era muito novo. já fazia mais de 5 anos que não ouvia nada tão interessante. aqui no rio, não ouvi nada melhor.

o que chega a me tirar a sono é pensar que esses moleques estão lá em ubá, e ninguém sabe disso. espero que eles terminem logo de gravar a primeira demo, e que possam vir tocar aqui no rio, e depois em sp, onde acho que eles podem se dar melhor.

me desculpem se parecer exagerado, mas é nessas horas que agradeço por estar vivo. agradeço por essas boas surpresas que a vida guarda para a gente. são, além de presentes, verdadeiras lições.

vou dormir depois de escrever este post com a consciência super-tranquila. foi um domingo em que senti bem menos falta daquele show do dormidela. a partir de agora, a demo que quero é a do "insonia hits"

quarta-feira, janeiro 12, 2005

foto melhor


assim dá pra reparar a expressão genial do zé.

zé. simples assim.

poucas pessoas tem o talento responder de um jeito realmente inesperado à que talvez seja a mais comum e previsível das perguntas. o último exemplo que tive foi no sana, durante o reveillon:

- Qual é mesmo seu nome?
- ZÉ.

não tem jeito. é fantástico. só duas pessoas me responderam isso até hoje. assim mesmo, sem frescura. com apenas duas letras, conseguiram derrubar qualquer expectativa que eu tivesse em torno de uma resposta. essas duas letrinhas, quando ditas com firmeza, além um certo orgulho, são mágicas, e tem o poder de trasnformar qualquer tentativa de seriedade num momento de alegria. fazem com que minha preocupação seja apenas "não posso rir agora".

muita gente falaria "é josé, mas pode me chamar de zé", do mesmo jeito que "o pessoal de chama de vadinho, mas me chamo osvaldo" e outras coisas do tipo. mas esse senhor, assim como um certo outro zé que já conheci, não tem vergonha nenhuma do nome, ou da forma como o tratam. administram esse problema com uma dose pesada de desdém, tomando por banal algo que todos conserideram essencial.

olhando para a foto do zé, dá pra perceber como ele tem esse espírito de transgressão. pelo seu olhar insubordinado, pela sua claríssima renúncia a qualquer princípio de simetria, pela não-sujeição a todas as regras da sociedade, zé se revela um ídolo de proporções estratosféricas para qualquer um que tenha a sorte de conhecê-lo.




esse exemplo do zé, pode até parecer pobre, mas é onde se torna simples se entender que o modo mais direto de se cativar alguém, seja para conseguir um sorriso ou uma lágrima, é surpreendê-lo em situações onde a resposta a um estímulo deveria ser quase que mecânica. mesmo com seu ar distraído e sonolento, zé me fez entender que ser uma pessoa legal é apenas dizer ao outro o que ele quer ouvir, mas na hora que não espera.


sexta-feira, janeiro 07, 2005

VAZOU!!!

Pois é, minha gente....

Tudo indica que um subalterno comunista desviou as demos de algumas músicas do novo disco do D.NELSON. É claro que, logo que chegou às minhas mãos, tive certeza que iria disponibilizar aqui o download.

As duas faixas, gravadas ao vivo no estúdio do produtor russo Igor Ogniov, são um flagrante de toda a criatividade de nossos artistas favoritos.

Na primeira canção, uma versão do irônico megahit Shake Your Nose, de Elvis Costello, Nestor mostra todo o seu balanço, entoando com energia os sábios versos da letra adaptada por Rogerinho.

Já a segunda é um momento mágico onde os três vocalistas de D.NELSON se encontram. A criatividade de Nestor, a delicadeza de Diva e ao lirismo do tenor espanhol Livido Gimenez se unem, elevando a conjunção voz/harmonia a patamares inimaginavelmente superiores à produção de décadas de música no Brasil. A dúvida que sobe ao ar sobre o suposto erro, contornado com enorme talento por todos eles é mais um exemplo da carga de magia do trabalho de D.NELSON.

Tenho certeza que este experimento lança os alicerces de uma nova formação musical no Brasil, e os primeiros convidados a participar desta revolução são vocês, meus quatro fiéis leitores.

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MOVA SEU NARIZ (SHAKE YOUR NOSE) download
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MOVA MOVA MOVA SEU NARIZ
MOVA MOVA SEJA UM APRENDIZ
MOVA, VEM COMIGO, SER FELIZ E SE MOVER
MOVA MOVA MOVA PRA VALER

(EVERYBODY) MOVA MOVA MOVA SEU NARIZ
MOVA MOVA SEJA UM CHAFARIZ
MOVA, VEM COMIGO, SER FELIZ E SE MOVER
MOVA MOVA MOVA PRA VALER

CRÉDITOS:
Voz: Nestor
Vocais: Nestor Sobrinho e Rogerinho
Viola Irlandesa: Rogerinho
Percussão e Copo: Negra Osvalda
letra: Rogerinho

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VOCALIZE download
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VOCALIZE
COM O PULMAO ESQUERDO
COM O PULMAO DIREITO
COM TU ESOFAGO
COM TU ESTOMAGO
CHAME O NOSSO AMIGO

EDNALDO!!!!

DE NOVO. VOCALIZE DE NOVO.

CRÉDITOS:
Vozes: Nestor, Livido Gimenez e Diva Marins
Violão: Heitor do Cavaco
letra e música: Bert Wrencher

eu, eu mesmo e brunolo

Tempo vai, tempo vem. E eu continuo meio excêntrico.

Desde ontem venho passando bastante tempo no computador. Tenho umas coisas importantes - e outras nem tanto - pra fazer. Pra tentar dar uma animada, resolvi lembrar de meus tempos de fuçador do Napster, Audiogalaxy, etc. e justificar a pequena coleção de MP3 que levei algumas madrugadas para acumular.

Ouvi de tudo. Discos inteiros de The Jam, Richard Ashcroft, os estranhos do Kinks, Blur, Super Furry Animals, Ronnie Von, e até coisas esquisitas como Cornershop e o duvidoso Kasabian.

Todos esses são discos que não ouvia a muito tempo, ou nunca tinha tido saco de ouvir sentado em frente ao computador. Mas depois que eles acabaram, e é aí que explico minha excentricidade, achei no HD umas demos de músicas que compus e a banda não toca.

Qual foi o resultado? Durante a meia-hora (é com hífen??) em que ouvi apenas a mim mesmo, as coisas fluiram e o dia rendeu. Além do mais, em vários momentos me peguei cantando junto com "ele", tentando encaixar terças típicas de música sertaneja e outras coisas envergonháveis.

Conclusão: Não há nada melhor que ouvir a si mesmo. Pelo menos quando não se agüenta mais ouvir os outros.

Como já dizia o mais-do-que-sujo Renato Russo, em um de seus raríssimos momentos de temporária lucidez e talento: "Ora, se você quiser se divertir, escreva suas próprias canções".